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Paralelamente aos resultados obtidos pelo Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências de Lisboa utilizou-se um software de modelação de dados e outras métricas para obtermos mais valores e informações sobre os serviços dos ecossistemas da exploração. O software utilizado foi a calculadora QUESSA, que permite a partir do desenho das áeras de foco ecológico presentes na exploração, estimar a biomassa e carbono no solo, os serviços de polinização da exploração, o controlo de pragas, a erosão, e a qualidade de habitat antes e depois das novas intervenções. (Os indicadores QUESSA (Quantification of ecological services for sustainable agriculture) tiveram origem num projeto FP7, financiado pela Comunidade Europeia. Esse projeto, tinha como objetivo identificar os principais habitats semi-naturais (SNH), fora e dentro das culturas, fornecendo serviços ecológicos essenciais (ES). No âmbito do estudo, foram medidos os impactos dos serviços ecológicos nos vários tipos de habitats existentes em diferentes sistemas de cultivo, com diferentes intensidades agrícolas em quatro zonas agro-climáticas europeia)

A quantificação dos serviços dos ecossistemas, através do software “QUESSA Calculator” foi compilada e sistematizada num sistema de gestão de informação e pode ser consultada num dashboard que estará disponível online no site do projeto e que pode ser aberto aqui.

QUANTIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS

Capa_00_edited.png
Estruturas de Foco Ecológico (EFA)
CONSULAI_quantificacao.jpg
Quantificação dos Serviços dos Ecossistemas (Modelo SIG)
POlinizadores_edited.jpg
Biodiversidade de
Polinizadores
Continuação - Ciclo de Nutrientes.png
Manutenção dos Ciclos de Nutrientes e de Carbono no Solo

Após a delineação, o desenho e a caracterização de cada área de foco ecológico (EFA – Ecological Focus Area – estruturas da paisagem que potenciam e proporcionam benefícios ecológicos) presentes na exploração, calculámos o seu impacto/desempenho, individual e em conjunto, nos diferentes serviços dos ecossistemas e na biodiversidade. Uma vez que a calculadora foi desenvolvida a nível europeu e se baseia em centenas de estudos e referências científicas de diferentes geografias, o software apresenta-nos três cenários distintos – pior, médio e melhor. A diferenciação de cenários advém do facto da combinação das características/atributos qualitativos e quantitativos de cada EFA poder ter impactos diferentes, dependendo não só da sua localização e gestão, como também dos autores e estudos em que se baseia. Ou seja, num determinado estudo a estrutura X tem o impacto Y, enquanto que noutro estudo a mesma estrutura pode ter o impacto Y+1 ou Y-1.

Para além dos modelos 0 e 1, respetivamente “Ponto de Partida” e “Segunda Via” (modelos que caracterizam os serviços dos ecossistemas que a exploração presta, antes e depois da instalação do Corredor Ecológico e da Orla Multifuncional) criou-se um terceiro modelo, “teórico” intitulado “2 - Boas Práticas”. Neste modelo instalaram-se ainda mais estruturas de foco ecológico semelhantes (com as mesmas características qualitativas) às apresentadas no modelo “Segunda Via” nomeadamente;

  • Setor A (polígono representativo da parcela onde foi instalado o Corredor Ecológico); foram criadas Margens de Campo ao longo dos polígonos de Terra Arável e das Valas;

  • Setor B (polígono de maior dimensão onde foi instalada a Orla Multifuncional):

  1. na zona do pivot mais pequeno (situado perto das casas) aproveitaram-se os cantos onde não havia produção agrícola (superfície de interesse ecológico/Pousio), para se criarem Sebes Arbóreas (não interligadas) semelhantes ao Corredor Ecológico (situadas na bordadura) e zonas de Orlas Multifuncionais, e criou-se ainda uma Margem de Campo adjacente ao pivot;

  2. na zona do pivot maior (onde foi instalada a Orla Multifuncional) criaram-se Margens de Campo à volta do pivot e das Valas adjacentes e diminuiu-se a área de Terra Arável dos cantos do pivot, para se criarem estruturas ecológicas que desempenhassem a função de um continuum naturale, designadamente Sebes Arbóreas (semelhantes ao Corredor Ecológico) adjacentes a uma Orla Multifuncional e, consequentemente, adjacentes a uma Margem de Campo. 

EFA
0
1
2
TOTAL
46
49
72
Valas
8
8
8
Terra Arável
15
14
14
Sebes
1
8
Pousio
4
4
Pastagens
3
1
1
Margem de Campo
3
3
15
Buffer
5
13
Arvores em Linha
2
2
2
Agroflorestal
11
11
11
EFA
0
1
2
TOTAL
208.1
208.1
208.1
Valas
2.33
2.33
2.33
Terra Arável
133.89
132.88
127.16
Sebes
0.78
2.13
Pousio
1.48
1.48
Pastagens
0.93
0.66
0.66
Margem de Campo
1.9
1.9
5.51
Buffer
0.51
2.75
Arvores em Linha
0.32
0.32
0.32
Agroflorestal
67.25
67.25
67.25

Número de EFAs em cada modelo

Ao analisarmos a Tabela 1 e Tabela 2 conseguimos perceber as alterações que ocorreram entre os diferentes modelos;

  • No modelo 0 – “Ponto de Partida” temos um total de 46 áreas de foco ecológico, sendo que as mais representativas são os polígonos correspondentes a Terra Arável (15 polígonos – 133,89 ha) e Agroflorestal (11 polígonos – 67,25 ha). 

  • No modelo 1 – “Segunda Via”, passamos a ter um total de 49 áreas de foco ecológico. Este aumento justifica-se com a criação de cinco áreas de Buffer (Orlas Multifuncionais), em detrimento de área de Terra Arável, e conversão dos polígonos de Pastagem existentes na área dos painéis solares, e com a criação do Corredor Ecológico (Sebe) 

  • No modelo 2 – “Boas Práticas”, temos um forte crescimento do número de áreas de foco ecológico passando a ter 72. Este aumento justifica-se com o desaparecimento da área de Pousio (4 polígonos – 1,48ha) e o decréscimo de Terra Arável (133,89 hectares para 127,16 hectares) que vai originar a criação de 8 áreas de Buffer (Orla Multifuncional), 12 margens de campo e 7 Sebes Arbóreas (Corredores Ecológicos).

A análise das alterações sofridas em cada modelo, nomeadamente o decréscimo de terra arável e a criação de novas estruturas ecológicas, será importantíssimo na medida em que nos permite perceber as dinâmicas e os impactos que estas estruturas têm na biodiversidade e nos serviços dos ecossistemas prestados pela exploração. 

Área de cada conjunto de EFAs em cada modelo

Ao analisarmos os resultados (por hectare) do Modelo de “Ponto de Partida” conseguimos perceber que as áreas Agroflorestais são as áreas com maior expressão no que toca ao serviço estético, sequestro de carbono (C_Biomass + C_Soil) e controlo de pragas. É de realçar também o papel das Valas no que diz respeito à polinização e as áreas de terra arável, que não só têm valores expressivos no sequestro de carbono, como têm o valor mais elevado na erosão. Quando analisamos os resultados (por hectare) da quantificação dos serviços dos ecossistemas do Modelo 1 (Tabela 4) e, consequentemente, a variação entre os dois modelos, conseguimos perceber o impacto das infraestruturas que instalámos na exploração (Orlas Multifuncionais – Buffer, Sebe – Corredor Ecológico)

O decréscimo de área de Terra Arável (em cerca de 1 hectare) e o decréscimo de área de Pastagens (cerca de 0,3 hectares), em detrimento da criação de um Corredor Ecológico (sensivelmente 0,78 hectares) e de Orlas Multifuncionais/Buffer (sensivelmente 0,51 hectares) permitiu um incremento importante em todos os serviços dos ecossistemas. O maior aumento foi a nível da estética (cerca de 12%), seguindo-se o sequestro de carbono e o controlo de pragas (cerca de 10% ambos) e por fim na polinização (cerca de 6% obtido com a instalação das Orlas Multifuncionais). É de realçar que a erosão do solo aparece com o valor negativo, visto que conseguimos reduzir a erosão do solo com a instalação das duas estruturas. 

MODELO "PONTO DE PARTIDA"(0) vs "SEGUNDA VIA"(1)

Ao analisarmos os resultados (por hectare) do modelo das “Boas Práticas” e a evolução percentual face ao modelo de “Ponto de Partida” (Tabela 7) conseguimos perceber que o aumento de estruturas iguais já instaladas no projeto (Orlas Multifuncionais e Corredores Ecológicos), traria ainda maior benefício para os serviços dos ecossistemas. Em detrimento (face ao Modelo 1) de mais 5,72 hectares de Terra Arável e de 1,48 hectares de Pousio (extinção da área total de pousio), para a instalação de mais 2,24 hectares de Buffers (mais 8 estruturas), 1,35 hectares de Sebes/Corredores Ecológicos (mais 7 estruturas) e a criação de 3,61 hectares de Margens de Campo (mais 12 estruturas) conseguimos ter aumentos percentuais de 95% na estética, 66% no sequestro de carbono (C_Biomass + C_Soil), 2064% e 7091% no controlo de pragas (aéreo e no solo) e 2494% no que diz respeito à polinização. Tal como no caso anterior, a erosão tem um crescimento negativo, ou seja, reduzimos a erosão no solo.

  

É de realçar que as Sebes desempenham um papel fundamental no serviços estético (é a característica com maior expressão) e no sequestro de carbono (ficando apenas atrás das áreas de Agroflorestal), os Buffers desempenham um papel fundamental em qualquer um dos serviços, e as Margens de Campo que idealizámos (característica que não está presente no projeto que implementámos, mas que consideramos ser importante nas explorações agrícolas) desempenha um papel fundamental nos serviços de polinização e de controlo de pragas.

MODELO "BOAS PRÁTICAS"(2)

No que diz respeito aos impactos na biodiversidade, o software mede o impacto que o conjunto das áreas de foco ecológico têm relativamente ao índice de Shannon. Como tal, e para percebermos os gráficos seguintes, é importante referir que as Sebes/Corredores Ecológicos, Valas e Árvores em Linha, estão englobados na categoria de “Lenhosas Lineares”, os Buffers/Margens Multifuncionais e as Margens de Campo estão englobados na categoria de “Herbáceas Lineares” e as áreas Agroflorestais e de Pastagens estão na categoria de “Herbáceas”. Realça-se que não fomos nós que atribuímos esta classificação, mas sim o software.

BIODIVERSIDADE

Quando analisamos a percentagem de cada categoria face ao índice de Shannon (independentemente do modelo) percebemos que a categoria das Herbáceas Lineares é a categoria com valores mais elevados (expectável, visto que estes são “corredores” para a biodiversidade se deslocar de habitat em habitat assim como ponto de refúgio e de alimento para diferentes espécies), seguindo-se as Lenhosas Lineares e por último as Herbáceas. Ao analisarmos os valores do Modelo 1 face ao Modelo 0 conseguimos perceber que a evolução mais expressiva se dá na categoria das Lenhosas Lineares, fruto da instalação do Corredor Ecológico/Sebe na zona do valado, e que a evolução nas Herbáceas Lineares (com a instalação das Orlas Multifuncionais/Buffer) tem uma evolução positiva pouco expressiva. No entanto, ao compararmos os valores do Modelo 2 face ao Modelo 0, conseguimos perceber que a forte aposta deve ser de facto na criação e instalação de margens de campo e Orlas Multifuncionais ao longo da exploração, uma vez que duplica o índice de Shannon, passando de 0,11 para 0,22.

Conjunto de EFAs
Shannon (0)
Shannon (1)
Shannon (2)
% Evolução (1)
% Evolução (2)
TOTAL
0.11
0.13
0.22
16.39
95.87
Herbáceas
0.02
0.02
0.02
-25.21
-25.21
Outras
0
0
0
Herbáceas Lineares
0.08
0.08
0.15
8.73
91.27
Lenhosas Lineares
0.01
0.03
0.05
180.83
431.6

Evolução do Índice de Shannon por categoria e por modelo

Valado%20_01_edited.jpg
Corredor Ecológico
Pasto%20para%20polinizadores_edited.jpg
Orla Multifuncional
Refugio%20aves_edited.jpg
Regeneração Natural
e
Abrigos para Aves e Morcegos
Percurso%20Interpretativo_edited.jpg
Percurso
Interpretativo
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