MARGENS DE CAMPO
Tal como o nome indica estas caracterizam-se como as margens/bordaduras adjacentes aos limites dos campos agrícolas, sendo que na maioria dos casos ocorrem ao longo e adjacentes às sebes. Apesar dos impactos nos serviços dos ecossistemas e na biodiversidade serem semelhantes aos das Orlas Multifuncionais é importante referir que são estruturas diferentes. As Orlas Multifuncionais são estruturas lineares herbáceas com espécies floríferas que requerem alguma manutenção (ver mais informações no setor “Orlas Multifuncionais"), enquanto as margens de campo são, nomeadamente, constituídas por estruturas lineares compostas por vegetação herbácea espontânea e que não requer grande manutenção – um/dois cortes anuais.
A margem de campo é frequentemente negligenciada como um habitat, uma vez que a não existência de uma gestão controlada, acaba por fazer com que a margem de campo acabe por ser considerada como parte integrante das sebes ou de outras estruturas lineares naturais – a tendência de maximizar a utilização da terra agrícola levou a que muitas margens de campo se tornassem inexistentes, com a cultura a crescer até à fronteira da sebe. No entanto ao termos uma margem de campo bem gerida adjacente aos campos agrícolas e consequentemente a outras estruturas lineares naturais, proporcionará múltiplos benefícios para a biodiversidade (alimento e abrigo) e para os serviços dos ecossistemas (polinização, controlo de pragas ou controlo da erosão).
IMPACTOS NOS SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS
IMPACTOS NA BIODIVERSIDADE
CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE MARGENS DE CAMPO
• Para beneficiar a biodiversidade selvagem, selecione um local adjacente/fronteiriço entre os campos agrícolas e outras estruturas ecológicas, como sebes, árvores em linha, floresta ou bosquetes.
• Avalie se a margem pode ser estabelecida através de regeneração natural – se o banco de sementes no local em questão já contém gramíneas perenes, flores silvestres e baixos níveis de ervas daninhas. Nesse caso, a sua implementação não terá qualquer custo associado. A gestão de uma margem de campo com estas características sai mais barato do que estabelecer uma nova.
• A melhor altura para estabelecer as margens de campo é entre o mês de agosto e setembro, no entanto se for através de regeneração natural, será necessário uma maior quantidade de sementes relativamente à primavera.
• Certifique-se que não existem ervas daninhas no local a plantar, se tal acontecer utilize um herbicida adequado e homologado antes de semear a mistura.
• As misturas de sementes a serem implementadas nas margens de campo devem ter em conta as condições locais do solo e as características gerais da região. Utilize uma mistura que estabeleça uma margem com vegetação densa. Esta não só minimizará o efeito do escoamento superficial como trará benefícios para a biodiversidade (refúgios de alimento e abrigo) durante o inverno.
• No primeiro verão, faça o primeiro corte quando a vegetação já estiver com 10 cm de altura a fim de controlar as ervas daninhas. A remoção da vegetação cortada é encorajada e desejável para que as plantas existentes se possam desenvolver.
• Para potenciar os serviços da polinização e controlo de pragas naturais, considere melhorar a mistura das sementes, com espécies floríferas (com diferentes épocas de floração). Ao estabelecer um calendário de épocas de floração diferentes conseguimos providenciar alimento e abrigo aos insetos polinizadores ao longo do ano inteiro. Ao criarmos um habitat propício para insetos polinizadores (e não só) ao longo do ano, estamos a providenciar um local de alimentação para aves passeriformes que tanto se alimentam destes insetos, como pragas que poderão aparecer nas culturas adjacentes às margens de campo.
• Para potenciar os serviços de regulação e proteção dos cursos de água, crie uma faixa tampão ao longo do curso ou ao longo das encostas íngremes para intercetar o escorrimento. Para o escorrimento ser mais eficaz considere criar margens de campo dispersas ao longo do curso em diferentes locais nas encostas.
GSTÃO DE MARGENS DE CAMPO EXISTENTES
• Depois do primeiro ano, corte as margens uma vez em cada três anos e durante o outono. Evite cortar a margem toda de uma só vez, faça rotações de áreas ao longo do tempo para permitir a existência de habitats densos para insetos hibernantes durante o inverno.
• Evite cortar a vegetação existente quando ela está húmida para evitar a compactação.
• Evite o pastoreio das margens durante os meses de março e agosto.
• Evite aplicar herbicidas e pesticidas, caso seja necessário utilize um produto homologado e apropriado para a espécie em questão o mais rapidamente possível.
• Evite a dispersão de herbicidas/pesticidas/ fertilizantes nos campos adjacentes. Apesar das margens de campo serem um tampão e ajudarem a filtrar essas substâncias para outras estruturas ecológicas ou locais na exploração, a dispersão destes produtos prejudicará a biodiversidade que se fixou nas margens de campo, a qual desempenha diversos serviços dos ecossistemas essenciais.
• Não utilize fertilizantes diretamente nas margens de campo.
BENEFÍCIOS
• As margens de campo com vegetação fornecem locais de nidificação para as aves que nidificam no solo. Uma faixa de relva adjacente a uma sebe curta e espessa fornece um habitat ideal para estas mesmas aves. Ao fornecer este abrigo, as aves podem consequentemente alimentar-se de potenciais pragas existentes nas nossas culturas.
• As margens de campo com vegetação fornecem habitats naturais a um grande número de insetos e de aranhas que poderão alimentar-se de pragas nas culturas da primavera. Para além destas espécies, atraem também outros insetos que são alimento para aves. Ou seja, criam um hotspot de alimento e refúgio para várias espécies e desempenham um trabalho importante no que diz respeito ao controlo de pragas naturais.
• As margens com misturas ricas em recursos florísticos (cheios de flores selvagens) atraem insetos polinizadores que consequentemente polinizam as culturas que lhes estão próximas. Desempenham, assim, um papel importante no incremento dos serviços de polinização na exploração e poderão melhorar a produtividade das nossas culturas. Realça-se que ao desempenhar esta função, a exploração poderá ter maior ganho na produtividade das culturas e poderá ter um menor custo em fertilizantes e adubos.
• As margens de campo vegetadas fornecem ainda um habitat bastante favorável a pequenas populações de pequenos mamíferos que consequentemente ajudam na predação de pragas de forma natural.
